sábado, 27 de dezembro de 2008

Natal e "a fins"

Eu adorava as festas de Natal na casa da minha avó.
A árvore, todos os anos, era enorme (embora parecesse diminuir conforme eu crescia) e tinha mil penduricalhos, que eu passava horas olhando.
Meus pais, irmãos, tios, primos e avós se juntavam para conversar, rir juntos, trocar presentes e palavras de afeto. Era uma família muito unida.
Pelo menos era o que eu pensava.
Num primeiro de ano chuvoso de um certo ano, minha avó, pilar dessa festa, morreu.
Foi uma decepção muito grande descobrir que aquela família não era tão unida assim....

Acabaram-se os natais na casa da vovó.
O cetro de rainha da festa havia se mudado de dona.
Agora, era a minha mãe quem recebia a família para as festas e delas, meus tios e primos não mais participavam. Cada um seguiu a sua própria vida e apenas restaram cartões polidos de felicitações de natal e ano novo, sem o aparente calor humano dos anos anteriores.

Eu e meus irmãos fomos casando, tendo filhos, e a família voltou a ser grande e unida de novo.
Ríamos muito em todas as festas, mil discursos emocionados nas entregas de presentes do amigo secreto - eu me sentia como quando criança, nas festas de Natal da vovó. Tinha até um pouco de ciúmes da sincera amizade que eu percebia entre as famílias de meus irmãos.
Passado um tempo, separei-me, meus irmãos brigaram muito feio, meu pai brigou mais feio ainda com a minha irmã... a família encolheu de novo e a mamãe perdeu a vontade de comandar uma festa, já que, para ela, ou era tudo ou nada - família tinha que ser unida, senão a festa perdia o sentido.
Foi uma decepção muito grande descobrir que aquela outra família não era tão unida assim....

Acabaram-se os natais na casa da mamãe.
Neste ano, nos reunimos em minha casa.
Meus filhos já começaram a montar suas próprias famílias e essas famílias se juntaram para curtir, junto com os avós e os tios que assim o quizessem, momentos de descontração e afinidade, de comunicação suave e preocupação sincera com o bem estar uns dos outros.
Vi minha filha marcando degraus com fita crepe para nenhum primo pequeno ou avô levar um tombo, meu filho se lembrar do suco de uva que a priminha pequena gostava tanto, todo mundo concordando em abrir mão do peru para a pequena Isabella (4 aninhos muito espertos) não chorar pelo bichinho morto, minha mãe atarefada na cozinham exorcizando seus pequenos demônios de tristeza e aproveitando a festa, apesar de não ser como antes e nem como ela queria.
Parecia, de novo, uma grande família unida. Me senti leve, feliz... Não era como antes, mas era tão bom!
No final de festa, minha mãe deixou comigo o saco do papai-noel (que carregou presentes para meus filhos e seus primos por mais de 30 anos) e o sino, que todos os anos vem anunciando a chegada do velhinho bondoso.
Fica com você - disse ela. Eu já não preciso mais e você logo vai precisar....
Na hora, eu não me dei conta...
No dia seguinte, encerramos as festividades com uma cervejada particular (eu, Ton, "crianças" e namorados/maridos) e uma conversa muito gostosa. Foi a parte mais legal do natal!
E, nem assim, eu me dei conta....

Hoje cedo, conversando com o Ton, percebi que o cetro havia passado de mão, outra vez.
Agora, era eu quem tocaria o sino, avisando às crianças da família que o Papai Noel tinha chegado. Minha família vai crescer devagarinho e logo haverá vida nova. E, sempre, haverá espaço para quem quiser compartilhar esses momentos em minha casa.
Como ele tão bem lembrou, família é quem está a fim de ficar junto, não importa o sobrenome...
Ele tem razão.
Dessa vez, eu não vou me decepcionar!