Tava num onibus, em Sampa, saco cheio depois de um dia de trabalho cansativo e me imaginando ter ainda mais duas horas de fretado até chegar em casa e tomar meu merecido banho.
Levantei para descer no meu ponto e, perto da porta, vi, de costas, uma moça com uma bolsa enorme, cheia de cores e tecidos diferentes.
Na parada do onibus, como não podia deixar de ser, já que o dia tinha sido repleto de pequeninas contrariedades (e eu, trouxa, caí em todas) , acabamos por trombar no primeiro degrau...
Me desculpo, esperando encontrar mais um esbarrão ou uma cara feia (quando o humor tá mal, tudo fica pior) mas, no instante seguinte ao encontro de nossos ombros (bolsas?) a moça vira para mim, com um sorriso enorme nos lábios, e me cede a vez para descer, enquanto eu faço o mesmo.
Eu insisto, ela insiste e acabo descendo antes, não sem antes ouvir da moça sorridente:
"- Faço questão. Pode descer primeiro. Essa minha bolsa grande sempre me atrapalha."
Agradeço, até que meio sem graça.
Descemos uma atrás da outra, e, já na calçada, ganho um beijo na bochecha e um sonoro "Tchau! foi bom te conhecer."
Espanto total!
Não sei o nome, nem se vou encontrá-la algum dia de novo, mas, mal sabe ela como foi bom para mim tê-la conhecido.
Fiquei de bem com a vida por muitos dias por conta do nosso encontro.
Onde estiver, moça sorridente, não desista de ser como é.