sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O tempo passa e a vida vale

 Tô aqui lendo meu último escrito de 2016... Naquela época já dava para perceber para onde estava indo a minha sanidade.

2017 foi o pior ano da minha vida. Vivi esse ano no tranco, me assustando com o vácuo, com o vazio, com a desesperança de acordar todo dia. 

Foi o ano em que fiz 60. Virei, do dia para a noite, uma idosa. Agora tinha cartão para estacionar em lugares melhores, entrava no cinema de graça (agora não só meia), andava de ônibus em Sampa sem pagar (e com o plus da cara de espanto dos motoristas, porque eu não parecia idosa). 

Não estava com depressão por causa da idade. Até me divertia me ver como alguém mais velho, e, quem sabe, até mais sábio. Uma das coisas que veio com a idade (não necessariamente no dia do aniversário) foi o foda-se suave, aquela coisa de " não devo nada para ninguém, ninguém paga minhas contas, não preciso agradar ninguém"...

Peraí. 

Esse não preciso agradar ninguém não ficou tão bom... Ainda estou no treino para me livrar dessa máxima e lá se vão 8 anos. 

Talvez até tenha sido esse "preciso agradar alguém" que me ajudou a deixar o "bicho" chegar. 

Chamo de bicho, desde sempre. Me ajuda e entender como algo fora de mim e que posso matar com uma boa vassourada, embora precise de muita coragem e força. 

A gente não brinca com depressão. É coisa séria e incontrolável, se vc não pedir ajuda.

E foi o que eu fiz. 

Demorou, mas ano seguinte, bem nos meus 61 anos, estava me dando de presente a festa de aniversário que eu sempre quis e a sonhada aposentadoria. 

Um ano e pouco de farra, fazendo um monte de coisas novas e gostosas (talvez, por isso, me distrai dos meus escritos) , preparando um show solo em homenagem à minha mãe (conto mais essa coisa outra hora), e chega a pandemia. 

Essa estória precisa de tempo para explicar, porque, para falar a verdade, ainda não absorvi bem. Dois anos e pouco de reclusão, medo e, ao mesmo tempo, uma profunda conexão com os queridos. E, por causa disso também, não escrevi. 

Passada a pandemia, aprender a viver em comunidade de novo, voltar a preparar e fazer o show, viajar (viagem que dura até agora) num curso de meditação avançada que mudou minha vida. 

E eu continuei não escrevendo. Precisava acomodar tanta mudança antes de colocar para fora. 

Parece que agora a coisa está fluindo.

Tô me divertindo aqui. 


Meu pai ainda está aqui

 Falo pouco dele. 

Ainda não entendi muito bem a misteriosa relação que nós dois tínhamos.

Ao mesmo tempo em que ele me ensinou coisas muito importantes para alguns dos meus sucessos na vida (lembrando que sucesso é um conceito relativo), a gente batia de frente como dois touros numa briga pela vida. Talvez porque eu seja muito mais parecida com ele do que eu gostaria...

A gente quer ser a gente, única, e quando vê refletida no espelho uma imagem que lembra pai ou mãe (o que é mais do que óbvio, porque vivemos os primeiros anos e experiências com eles) a coisa pode ficar estranha.

A não ser que vc descubra, estudando algumas correntes filosóficas e espirituais, que sua ancestralidade é sua base e, deve ser honrada e agradecida, pois sem ela, você não existiria. Aí tudo se encaixa melhor. 

Estou no meio termo, ainda...

Mas, voltando a ele, ontem fomos comer num restaurante chique, para comemorar o aniversário do Ton (ele escolheu, eu não tinha a menor ideia onde seria - sou boa de dar presente) . Ele não gosta de comemorar aniversário, mas gosta de comer, e é esperto de não recusar presentes desse tipo !

Ao chegarmos, pasmem, o garçom puxou a cadeira para mim. E os vários moços bonzinhos que lá estavam, repetiram o gesto cada vez que que me levantei para pegar comida (e que comida boa!).

Feministas presentes - eles fizeram isso para o Ton também...

Lembrei do meu pai na hora!!! Ele era desse tipo de pessoa. Fazia essas coisas que hoje muitas mulheres acham ofensivas (e eu não sei abrir uma porta de carro sozinha? não sei puxar uma cadeira para sentar? não sou inválida só por ser mulher). 

E sabe o que mais? Apesar de enxergar a necessidade do feminismo nos dias de hoje e para sempre, até hoje eu gosto disso. Não percebo a coisa como uma ofensa às minhas habilidades, mas sim como um "deixa eu facilitar a coisa para você como um carinho, como o sinal que eu te percebo e quero ver você bem". 

Creio que essas coisas no meu pai, que hoje teria 90 anos, talvez até fossem ditadas pela ideia que corria na sociedade (corria ou corre?) de que o homem era o provedor, o cuidador, o mais forte... Mas me lembro tão bem de eu indo com ele ao hospital, para fazer o tratamento de câncer no cérebro, já perto da ida dele, e, ao caminharmos na calçada de encontro ao táxi que o levaria para casa, ele tendo o cuidado de me colocar do lado de dentro da calçada, mesmo com toda dor e medo que devia estar sentindo (se um carro perder o controle e subir na calçada, eu te protejo, ele dizia). 

Meu irmão demorou para chegar. Enquanto ele não vinha, e crescia o suficiente para poder fazer companhia a ele, era eu quem ajudava a limpar e consertar o carro e outras coisas. Me lembro bem da vez em que desmontei o  meu radinho de pilha e montei de novo só para descobrir se eu conseguia (e, hj vejo, para mostrar a ele que estava dando valor ao que ele me ensinava).

Ontem deu uma saudade muito grande dele. Também ao perceber a toalha de pano e o guardanapo de pano, branco e imaculado, que daria tanto prazer a ele!!! Quando começou a onda de toalhas de plástico e guardanapo de papel, ele quase que definhava nos restaurantes. 

Ao limpar a boca no guardanapo, depois de uma comida que ele adoraria, eu pensei: paião, essa é para você! 

Saudade.



terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

E se...

O sol surgia atrás das montanhas, fazendo brilhar tudo à sua volta.

Não que a gente não saiba que é a terra que se movimenta e não o sol, mas é tão poético pensar numa bola de fogo que caminha nos céus, vindo nos visitar e se despedindo todos os dias ... 

Vários raios de luz cruzavam as frestas da persiana na janela do quarto, mandando embora o sono que até já estava durando muito. 

Ela acordou feliz. Sabia que o dia seria mágico, uma vez que finalmente teria um encontro com aquela pessoa que aguardava a tanto tempo. Muitas coisas para providenciar ( qual roupa? quanto tempo antes chegar? qual assunto falar primeiro?), saiu da cama como que flutuando

Peraí...

Tá muito meloso. Melhor começar de novo. 

O sol surgia atrás das montanhas, fazendo brilhar tudo à sua volta.

Algumas nuvens cobriam seus raios, formando desenhos no céu, como numa pintura.

Enquanto a luz se espalhava lentamente pelo quarto, toca o despertador e ela abre os olhos, despertando do sono dos justos, com um largo sorriso no rosto. 

Pensando bem, não tão "justa" assim. No dia anterior ela havia dado uma senhora puxada de tapete em uma colega de trabalho. Puxada tão bem dada que teria rendido uma promoção há muito esperada. Agora era assumir o cargo e comemorar 

Peraí...

Não sei se quero entregar o caráter dela logo de cara. Melhor começar de novo.

O sol surgia atrás das montanhas, fazendo brilhar tudo à sua volta.

Como não tinha cortina na janela, a luz inundou o quarto, e, no meio do silêncio, se ouve um palavrão em alto e bom som.

Ela havia chegado tarde do segundo emprego, e fazia menos de quatro horas que havia pegado no sono. Faltavam ainda umas duas horas para chegar no primeiro trampo (e nesse tempo tinha que descontar 45 minutos num ônibus lotado e, provavelmente, de pé). "Que droga essa desse sol que podia ficar no canto dele e não me tirar o pouco descanso que eu tenho" , pensou ela

Peraí...

Tá tétrico demais. Já começar reclamando pode não ser um bom atrativo para o leitor. Melhor começar de novo. 

O sol surgia atrás das montanhas, fazendo brilhar tudo à sua volta.

A luz entrava pela janela e se refletia nos cristais do móbile enchendo as paredes do quarto de pequenos arco-íris.

Saindo de um sonho interessante, ela abre os olhos devagar, espreguiça longamente, respira fundo algumas vezes.

Banheiro rápido (que inclui limpeza da língua e tudo), volta para o quarto, sentando no tapete de yoga. Mais respirações profundas, olho fechado, se concentra então em observar a respiração e trazer a mente para o mesmo lugar em que estava quando dormia, só que, agora, consciente 

Peraí...

Esse abre e fecha o olho, não expliquei o sonho, que podia dar cor ao texto... Melhor começar de novo. 

O sol surgia atrás das montanhas, fazendo brilhar tudo à sua volta.

No meio de uma onda de calor, ela ajeitou melhor os pés, que estavam meio que para fora da sombra que a ponte fazia no papelão que tinha colocado no chão para dormir. 

A vontade era não levantar, dormir o dia todo, esquecer, mas dali a pouco o barulho dos carros passando impediria qualquer descanso. Mas, para que levantar, se essa luz de final de túnel que as pessoas dizem que existe está apagada há muito tempo? Ela se sentou e

Peraí 

Melhor não escrever sobre coisas que eu não vivo, sem estudar um pouco. Posso falar besteira e da grossa.

 Melhor começar de novo????


sábado, 15 de fevereiro de 2025

Minha vida já foi muito divertida

 Assistindo um show de um amigo agora (só músicas do Queen e ele canta pra caramba), lembrei que já cantei ao lado dele em dois casamentos.

Essa lembrança trouxe mais um carrossel delas: cantei solo num casório; tive uma banda por quase 20 anos que cantou em Sescs, bares, festas, abriu show dos Demônios da Garoa, Beth Carvalho, Quarteto em Cy, Elba Ramalho, cantou num comício do Lula e defendeu uma música num festival da Globo; fui puxadora de samba de uma escola em dois carnavais; cantei numa pancada de corais. Resumindo: eu me divertia para caramba!

Depois disso, e muitos anos depois, fiz um show solo (2022) em homenagem a minha mãe, que foi uma das coisas mais lindas que eu vivi. Mas foi ele e só ele num tempo muuuuuito longo. 

Tudo foi parando quando fui trabalhar em Sampa, no emprego da minha vida, que me dá sustento hoje e tempo para voltar a me divertir. A gente não pode ter tudo na vida, mas devia poder.

Para falar a verdade, minha vida agora tá uma pasmasseira (minha avó aqui falando... e.. será que é assim que escreve?).

Se achei tanta coisa divertida para fazer com o tempo tão curto (saia do trabalho, ia cantar, dormia quatro horas e voltava pro trabalho), agora devia ser mais fácil, né?

Minha natureza é alegria.

Foco nisso. 




sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Voltei

 Nossa! Quanto tempo!!!

Até me senti culpada! Por um motivo qualquer acabei vindo parar aqui essa semana e descobri que estive muda por muito tempo. 

Li muita coisa (voltar no tempo é bom, mesmo que a gente leia coisas que mostram nossas vulnerabilidades), e percebi que escrevo bem! 

Claro que, na mesma hora que percebi esse fato, veio o pensamentozinho que não podia ficar no canto dele: "como eu escrevi isso? não parece que fui eu..."

Quando ele chegou, veio junto um espanto por perceber que eu poderia ser uma escritora até razoável, se seja lá o que for que tem dentro da minha cabeça não me impedisse de continuar escrevendo. 

E esse sei lá o que (terapia resolveria, mas é tão demorado e cansativo!) me fez demorar tanto a lembrar que posso fazer isso e que isso me dá muito prazer. 

Que diabo é essa coisa que me impede de fazer algo que me dá prazer??? 

Esse assunto tem rondado a minha atenção esses dias. 

Tenho deixado de fazer muitas coisas que me fariam bem, que me dariam mais saúde, mais energia, mais vida. 

Eu até tento. Mas, começo e paro no meio; marco hora para fazer e esqueço; compro um curso e só faço a primeira aula; desisto antes de começar. 

Derrotismo puro né? Não tô com peninha de mim não. Tô até meio brava, por que minha lógica não está conseguindo reverter a preguiça. 

Sei lá até se é preguiça.

Aposentada que estou (não contei para vocês, né?), pós covid e pandemia (que sufoco!), tô aqui na terceira adolescência, com um corpo que até está melhor do que eu imaginava, e uma mente mais curiosa ainda. 

O que vou fazer do resto da minha vida? 

Parece importante responder essa pergunta, porque esse resto pode ser muito pouco e não parece boa ideia desperdiçar esse tempo. 

Quando tinha ocupação o dia todo, não dava tempo de pensar nisso. Agora, tempo é o que não falta, e, por muita sorte, corpo e cérebro estão prontos para as novidades que posso abraçar.

Falta só descobrir os ques. E como. E quando. 

Mas, antes disso, tenho que achar a "coisa" atrapalhona. Vai que eu descubro e não faço? 

 Meditar é urgente.